terça-feira, 9 de junho de 2009

entrevista com Thereza Aguilar

Entrevista com Thereza Aguilar, bailarina e coordenadora do projeto Dançando para não dançar, no site www.WMulher.com.br , por Flavia Hesse.

WM: Quando a sra. resolveu se tornar bailarina profissional?
Thereza: Aos quinze anos já sabia que queria ser bailarina.

WM: Como é a rotina de uma bailarina e quantas horas se treina por dia?
Thereza: Uma bailarina profissional ensaia pelo menos quatro horas por dia. Quando tem espetáculos, dependendo o dia inteiro.

WM: Como se lida com a dor?
Thereza: A gente convive com a dor. É algo que passa a ser normal. Não importa, a bailarina tem que dançar!

Convite
Thereza Aguilar
Coordenadora do Dançando

WM: Quais são os principais desafios na carreira?
Thereza: São vários, mas talvez possa resumir assim:
- nunca parar de sonhar
- trabalhar bastante
- tem que ter muita disciplina e finalmente
- tem que saber compartilhar com os amigos e pessoas do grupo

WM: Quando e como surgiu a oportunidade da sra. ir para a Alemanha?
Thereza: Estava com 17 anos, isso foi em 1984 ou 1986. Fui chamada para o Staatiche Balletschule Berlin, O diretor do balé que atuava na época, o Martin Putikar, me selecionou. Fizemos fotos e mandamos também um vídeo para o diretor da Escola de Ballet de Leipzig. Lá fiz a escola para formação de bailarinos.

WM: Qual foi a principal diferença que existe para uma bailarina entre dançar em uma companhia brasileira e uma companhia alemã?
Thereza: A principal diferença é que com a União Européia é muito difícil conseguir um trabalho lá. Para você tirar o lugar de uma européia você tem que ser muito, muito boa mesmo.

WM: A adaptação foi difícil?
Thereza: Fui para a Alemanha Oriental antes da queda do muro de Berlim. Era a única brasileira por lá. Não foi fácil e a língua também foi um desafio.

WM: Por que a sra. decidiu ir para Cuba?
Thereza: Na realidade, estava quase terminando a escola de balé em Leipzig. O Fernando Alonso, diretor Companhia de Ballet Clássico de Camaguey - estava fazendo uma turnê por lá e foi até a escola. Ele me viu dançar e pediu para o Putikar (diretor) se podia me levar. Aceitei na hora. Era uma grande oportunidade acabar de me formar e já ter um trabalho.

WM: O que a mais impressionou lá?
Thereza: O que mais me impressionou em Cuba foi como as pessoas sabem dividir e respeitar. Precisa-se trabalhar muito. Nos fins-de-semana um ajuda o outro nas plantações de arroz, mandioca, etc. Eles dividem com os amigos.

WM: Qual é a diferença em relação à Alemanha?
Thereza: Na Alemanha Oriental não tinha essa coisa de afeto. Em Cuba todo mundo era mais solidário.

WM: A técnica varia de um lugar para outro?
Thereza: De certa forma varia sim. São pequenas diferenças. A européia tem um biótipo mais longilíneo. Já as latinas têm mais bumbum e por isso há técnicas um pouco diferentes, mas não deixa de ser a mesma coisa.

WM: O que a inspirou a criar a Associação Dançando Para Não Dançar?
Thereza: O Balé Nacional de Cuba. Vi como as pessoas atuavam em comunidade. Isso foi uma grande inspiração e exemplo.

WM: Há quanto tempo existe o projeto?
Thereza: O projeto existe há 11 anos. Começou no final de 1994, mas a associação foi formalmente registrada em1998.

WM: Onde ele atua?
Thereza: Atuamos em 12 comunidades do Rio de Janeiro.

WM: É perigoso trabalhar em um lugar assim?
Thereza: Sempre é, mas a comunidade respeita bastante o trabalho.

WM: A sra. conta com ajuda institucional de empresas?
Thereza: Contamos com o patrocínio da Petrobrás. Acordamos com a Lufthansa que anualmente cede passagens para nossas bailarinas que estão na Alemanhã. A Videofilmes, que nos auxilia com nossos materiais. As associações de moradores das comunidades atendidas. O Teatro Leblon, o curso Brasas, entre outros. Temos também apoio institucional do ministério da Cultura, por meio da Lei Ruanet, e do governo do Estado do Rio que vai nos conceder um espaço para a montagem de uma escola de dança do projeto.

WM: Quantas pessoas trabalham na Associação?
Thereza: Atualmente são 30 a 33 pessoas.

WM: Como é feita a seleção das crianças?
Thereza: Depende. Quando abrimos, por exemplo, 30 vagas e 30 crianças se candidatam, pegamos todas elas. Agora, quando abrimos 30 vagas e 200 crianças se candidatam, aí fazemos um teste que leva em conta o tipo físico, postura, alongamento etc, como ocorreu no morro da Mangueira.

WM: Pela sua experiência é possível resgatar qualquer jovem através da arte?
Thereza: Sem dúvida alguma. Com educação e arte é possível resgatar qualquer jovem. Não só a ele, mas as famílias também. Há um compartilhamento. Os familiares acabam voltando aos estudos e se capacitando profissionalmente. Por exemplo, por meio de algumas parcerias o projeto consegue convites e toda semana pais e filhos vão a espetáculos de dança, ao cinema, a teatro. As famílias passam também a ter uma vida cultural. Elas crescem e se desenvolvem com tudo isso.

WM: Além da Bárbara Melo, vocês já conseguiram enviar outros jovens para trabalhar e se aperfeiçoar no exterior?
Thereza: Para aperfeiçoamento já conseguimos enviar vários bailarinos. Francisca Soares ficou três anos em Berlim, na Alemanha. Agora estão lá Daiane e Paulicéia. Márcia Freire, que hoje está no Ballet Stagium, foi duas vezes para cursos de especialização de um ano em Cuba. Agora mesmo a Ingrid está indo para Nova York fazer um teste. Mas contratada por uma companhia estrangeira, por enquanto só a Bárbara Melo.

WM: Quantos anos dura a carreira de uma bailarina? Depois o que é possível fazer?
Thereza: Pode durar a vida inteira. Como bailarina profissional há algumas que conseguem atuar a vida inteira como é o caso da Alice Alonso, do Balé Nacional de Cuba. De um modo geral, cada um tem seu limite pessoal, situado entre 45 e 50 anos. Depois é possível continuar com várias outras atividades ligadas à dança, como professores, coreógrafos, diretores de companhias, coordenação. Ainda, outras áreas como produção de espetáculos, assessoria de imprensa, nutricionista, etc.

WM: Algum sonho que a sra. gostaria de realizar?
Thereza: Gostaria que o Projeto virasse uma escola de dança oficial do Estado. No Rio de Janeiro inteiro só existe uma escola de dança oficial, que é a Escola Maria Olenewa, mantida pela Fundação do Teatro Municipal.

WM: A sra. gostaria de deixar uma mensagem para nossas leitoras?
Thereza: Não desista nunca de seu sonho. Tudo é feito com muito trabalho.

WM: A sra. é casada, têm filhos?
Thereza: Sou casada e tenho dois filhos e minha filha também está envolvida com a dança.

WM: Qual é o seu hobby?
Thereza: Adoro assistir filmes. Principalmente de dança, balé.

WM: É possível viver de dança no Brasil?
Thereza: Com certeza! Tem que trabalhar muito. Nada cai do céu. Não é fácil, mas bailarino tem que dançar de tudo.

Mais Informações: Thereza Aguilar - projetodancando@ig.com.br
Imprensa:
Tânia Aguilar -
taniaimprensa@gmail.com
Luizinho Moraes - luizinhomoraes@oi.com.br

A Petrobras e o Dançando para não Dançar apresentam a companhia de dança formada exclusivamente por bailarinos de comunidades populares do Rio

Quem passar no Largo da Carioca na sexta-feira (10/08), após o trabalho, às 18h30, poderá assistir a Cia. Dançando para não Dançar. O grupo apresentará repertório próprio que inclui trechos de balé clássicos – Coppélia, Paquita, A Bela Adormecida, Lago dos Cisnes - e coreografias de dança contemporânea - Gabriela: Ritmos Amados, Urubu Malandro, entre outros .

O espetáculo faz parte da primeira turnê nacional da companhia. O grupo iniciou a turnê por Brasília, dias 7 e 8 de julho, no Teatro Nacional. Serão ao todo mais 14 espetáculos em diferentes cidades no estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.

"A inclusão da "Cia. Dançando..." como convidada do Programa Petrobras Cultural é um reconhecimento da companhia como profissional e não apenas como um projeto de Responsabilidade Social. Esse patrocínio nos permitiu preencher uma lacuna que todas as Ongs enfrentam: a inserção dos jovens formados pelas entidades no mercado de trabalho", apontou Thereza Aguilar, diretora da companhia e coordenadora do projeto.

O projeto -O Dançando para não dançar foi criado em 1995 e é patrocinado pela Petrobras, desde 1997. Utiliza o perfil lúdico do balé clássico como instrumento de inclusão social e de cidadania ao proporcionar acesso à formação em uma profissão que dificilmente jovens carentes ingressariam.
Os alvos principais são a profissionalização de jovens, o incentivo à participação cultural, o combate à exclusão social, contribuindo, assim, para a diminuição da violência e da vulnerabilidade sócio-econômica.
Além das aulas de dança, inclui suporte sócio-educativo, com aulas de informática e reforço escolar; assistência médica e orto-dentário e acompanhamento com assistente social, psicólogo e fonoaudióloga, inclusive para os familiares.
Atualmente, o projeto atende a cerca de 480 crianças e jovens, de 7 a 19 anos, dos morros da Rocinha, Mangueira, Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Babilônia, Macacos, Tuíuti, Jacarezinho, Salgueiro, Dona Marta e em Oswaldo Cruz.

Especialização – O "Dançando..." já encaminhou mais de oito alunos das comunidades para cursos de especialização de balé clássico no exterior - na Staatliche Ballettschule Berlin, na Alemanha, e no Balé Nacional de Cuba.
No Brasil, alunos se especializam em companhias como o Ballet Stagium, Cia Deborah Colker e Grupo Corpo. Cerca de 100 alunos passaram na disputada audição da escola de dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, nos últimos anos.
Além do patrocínio da Petrobras, o projeto conta com o apoio do ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, da Faperj, da Video Filmes, da Lufthansa, do Theatro Municipal, do Teatro Leblon, do Brasas English Course. Também mantêm convênios com a Staatliche Ballettschule Berlin (escola de dança alemã) e com o Balé Nacional de Cuba.

Mais Informações: Thereza Aguilar - projetodancando@ig.com.br
Imprensa:
Tânia Aguilar -
taniaimprensa@gmail.com
Luizinho Moraes - luizinhomoraes@oi.com.br

Do morro para o balé europeu - JB Online (30/07/2007)
Anna Luiza Guimarães - Lei no Site do JB Online

Nascida e criada no morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, a bailarina Bárbara Melo, 20 anos, vai se apresentar em palco alemão no primeiro papel do balé Romeu e Julieta. A brasileira, que estuda balé na Alemanha desde os 14 anos, receberá na estréia a mãe, Antônia Melo, 55 anos, que ganhou da Petrobras a oportunidade de assistir ao espetáculo em que Bárbara aparecerá como estrela da Companhia Estadual de Ballet de Schwerin.

- Sempre quis visitá-la, mas não imaginei que conseguiria tão cedo - comemora a vendedora, que não vê a filha há um ano e embarca dia 9.

Antônia é casada há 28 anos com o cozinheiro João Batista, com quem teve, além da caçula Bárbara, Daniel, 24 anos, que estuda biologia, e Ronaldo, 27, bolsista de engenharia de produção na PUC-Rio.

- Acho que para dar um futuro promissor aos filhos, mesmo dentro da comunidade, é importante a base familiar - diz a mãe, orgulhosa.

Bárbara Melo conheceu o balé clássico no projeto Dançando para não dançar, que começou no Pavãozinho em 1995, quando ela fez parte da primeira turma.

A jovem bailarina fez cinco anos de especialização na Staatiche Balletschule Berlin. Em 2004, dançou na Cia de Magdeburg e em seguida foi contratada como solista pela Cia Volkstheater, em Rostock. Agora, segue carreira em Schwerin.

Interpretar o primeiro papel é façanha mesmo para uma excelente bailarina, enfatiza Thereza Aguilar, coordenadora do projeto:

- É difícil em qualquer lugar do mundo, e lá fora, numa companhia famosa, é quase impossível.